10 jul 2014

Brasil perde posição no ranking de competitividade

Professor da Fundação Dom Cabral, Carlos Arruda, diz que que a competitividade da economia do país está sendo impactada pelo aumento de preços. Foto: Divulgação

Professor da Fundação Dom Cabral, Carlos Arruda, diz que que a competitividade da economia do país está sendo impactada pelo aumento de preços. Foto: Divulgação

Pelo quarto ano consecutivo, o Brasil perdeu espaço no cenário competitivo internacional. Divulgado pelo IMD (International Institute for Management Development) e pela Fundação Dom Cabral, o Índice de Competitividade Mundial 2014 (World Competitiveness Yearbook – WCY) aponta que o Brasil caiu três posições em relação a 2013, ocupando o 54º lugar no ranking geral composto por 60 países. O Brasil está à frente apenas de Eslovênia, Bulgária, Grécia, Argentina, Croácia e Venezuela – a última colocada.

Considerado o mais renomado e abrangente guia sobre competitividade do mercado mundial, o World Competitiveness Yearbook, publicado anualmente desde 1989, avalia as condições de competitividade de 60 países a partir da análise de dados estatísticos nacionais e internacionais e de uma ampla pesquisa de opinião realizada com quatro mil executivos. No Brasil, a pesquisa e a coleta de dados são coordenadas e conduzidas pela Fundação Dom Cabral.

De acordo com a edição de 2014, estão no topo da lista das economias mais competitivas do mundo os Estados Unidos, Suíça e Cingapura. Os EUA permanecem no primeiro lugar, refletindo a força de sua economia, além de números empregatícios superiores e o alto desempenho em tecnologia e infraestrutura.

10 economias mais competitivas – World Competitiveness Yearbook 2014

País
Posição 2014
Posição 2013
Movimento

Estados Unidos

1

1

0

Suíça

2

2

0

Cingapura

3

5

+2

Hong Kong

4

3

-1

Suécia

5

4

-1

Alemanha

6

9

+3

Canadá

7

7

0

Emirados Árabes

8

8

0

Dinamarca

9

12

+3

Noruega

10

6

-4

10 economias menos competitivas – World Competitiveness Yearbook 2014

País
Posição 2014
Posição 2013
Movimento

Colômbia

51

48

-3

África do Sul

52

53

+1

Jordânia

53

56

+3

Brasil

54

51

-3

Eslovênia

55

52

-3

Bulgária

56

57

+1

Grécia

57

54

-3

Argentina

58

59

+1

Croácia

59

58

-1

Venezuela

60

60

0

“Um olhar geral sobre o panorama de competitividade em 2014 aponta o sucesso contínuo dos Estados Unidos, uma recuperação parcial na Europa e desafios para alguns dos grandes mercados emergentes”, considera o professor Arturo Bris, diretor do Centro de Competitividade do IMD. A maioria dos grandes mercados emergentes deslizou no ranking devido ao lento crescimento econômico apoiado no baixo investimento estrangeiro, além de uma infraestrutura inadequada. A China (23º) cai, em parte, devido a preocupações sobre seu ambiente de negócios, enquanto a Índia (44º) e Brasil (54º) sofrem com mercados de trabalho ineficientes e ineficazes na gestão de negócios. Turquia (40º), México (41º), Filipinas (42º) e Peru (50º) também caem.

Brasil: 16 posições perdidas em 4 anos

Este é o quarto ano consecutivo em que o Brasil cai no ranking: em 2010, ocupava o 38º lugar. No ano seguinte caiu para a 44ª posição e, em 2012, desceu à 46ª colocação. Na edição 2013, o Brasil caiu cinco posições, para o 51º lugar, e em 2014 desceu mais três posições, no 54º lugar.

O índice que permite aos pesquisadores definir posições no ranking é criado a partir da análise comparativa de cada uma das mais de 300 variáveis pesquisadas e à distância em relação ao país mais competitivo do relatório. Em 2014, o Brasil obteve 46,778 pontos (ou seja, 53,222 pontos a menos que o país líder, os EUA); em 2013, havia obtido 52,996 pontos. “Esses números indicam que a perda de competitividade do Brasil neste ano não é apenas relativa, mas também absoluta, e que a distância do país em relação ao líder vem crescendo com o tempo”, destaca o professor da Fundação Dom Cabral, Carlos Arruda, responsável pela coleta e análise dos dados do ranking relacionados ao Brasil.

O Brasil no World Competitiveness Yearbook

Ano

2014

2013

2012

2011

2010

2009

Índice

46,778

53,222

56,524

61,043

56,531

56,865

Posição

54

51

46

44

38

40

A metodologia aplicada na mensuração dos resultados utiliza dois grupos de indicadores, que são divididos em quatro pilares competitivos: performance econômica, eficiência do governo, eficiência dos negócios e infraestrutura. Os indicadores econômicos dizem respeito ao ano anterior ao lançamento do relatório, neste caso, ao de 2013. Já os indicadores provenientes da pesquisa de opinião com executivos, aplicada nos países, permitem identificar como a competitividade é percebida pelos empresários e se aproximam da realidade do ano em que a pesquisa é lançada, neste caso, o de 2014.

Desempenho da economia brasileira

Este fator analisa o ambiente econômico brasileiro. Ele indica que a competitividade da economia do país está sendo impactada pelo aumento significativo de preços (54ª posição) e pela baixa participação do Brasil no comércio internacional (59ª posição). “É fruto do declínio das exportações para mercados tradicionais como Argentina, União Europeia e Estados Unidos, e do aumento das importações de produtos industriais provenientes principalmente da China e de outros países asiáticos”, avalia Carlos Arruda.

O Brasil ocupa este ano a última posição no indicador ‘Taxa de Comércio Internacional pelo PIB’: 13,67% contra 54,88% (média dos países analisados); e a penúltima posição no indicador ‘Exportação de Produtos pelo PIB’: 10,79% contra 42,77% (média dos países). Favorável ao Brasil, o tamanho da sua economia continua entre as maiores do mundo. Apesar da queda relativa em 2014, o tamanho da economia doméstica (7ª posição no indicador Consumo das Famílias), a atração de investimentos diretos (7ª posição) e o emprego (6ª posição) são dados de destaque para o Brasil. Estes resultados positivos são significativos, mas, sozinhos, já não sustentam o crescimento do sétimo maior PIB do mundo.

2014

2013

Δ

DESEMPENHO DA ECONOMIA

43

42

-1

Economia Doméstica

36

31

-5

Comercio Internacional

59

59

=

Investimento internacional

23

20

-3

Emprego

6

6

=

Preços

54

56

+2

Eficiência do governo

Este fator analisa o ambiente institucional e regulatório brasileiro e é historicamente o ponto mais crítico da competitividade do país. Desde 2011, o Brasil está entre os cinco piores países neste fator. Sem apresentar nenhum sinal de simplificação nas legislações trabalhistas e no sistema regulatório, o país está entre os piores ambientes para se fazer negócios no mundo, com alta carga tributária direta e indireta, taxas de juros de curto e longo prazos que desestimulam o investimento na produção e no crescimento das empresas. O destaque positivo são os incentivos públicos às empresas (3ª posição), em que se destaca a ação do BNDES como incentivador do progresso econômico. Outro ponto de destaque é a reserva de moeda estrangeira (6ª posição). Por outro lado, os subfatores referentes à legislação, finanças públicas, política fiscal e estrutura institucional ocupam baixas posições e evidenciam questões que inibem o desenvolvimento.

2014

2013

Δ

EFICIÊNCIA DE GOVERNO

58

58

=

Finanças públicas

48

45

-3

Política Fiscal

35

38

+3

Estrutura Institucional

59

58

-1

Legislação dos Negócios

58

58

=

Estrutura Social

58

55

-3

Eficiência Empresarial

Este pilar analisa a eficiência das empresas brasileiras. Considerando os resultados negativos deste pilar em 2014, ele pode ser visto como a principal causa para a queda significativa do Brasil no ranking geral. Mantendo uma sequência que se iniciou em 2011, quando em todos os indicadores de produtividade o Brasil demonstrava não estar apto a sustentar crescimentos produtivos no longo prazo, em 2014 o país desceu à posição 59 no subfator Produtividade, à frente apenas da Venezuela. Em nenhuma das 11 variáveis que compõem este subfator o Brasil apresentou avanços de 2013 para 2014. Na variável Produtividade Total, ajustada ao padrão de compras do país (PPP), o Brasil ficou na posição 53, registrando crescimento negativo de -2,32% quando comparado a 2013.

Diferentemente dos últimos anos, em que os demais subfatores de competitividade relacionados à atividade empresarial sustentavam condições competitivas, em 2014 todos os subfatores e a maioria das variáveis relacionadas indicam perda de competitividade e de otimismo. “Este ‘desânimo competitivo’ que agora acomete o Brasil já foi observado neste relatório em outros países como Argentina, África do Sul e Turquia que, após alguns anos de perda de performance econômica e de eficiência de governo, perderam a sua capacidade de agir proativamente, iniciando um ciclo vicioso de pessimismo empresarial e perda de competitividade geral”, pontua Carlos Arruda, da Fundação Dom Cabral.

2014

2013

Δ

Eficiência Empresarial

46

37

-9

Produtividade e Eficiência

59

58

-1

Mercado de Trabalho

32

23

-9

Finanças

34

27

-7

Práticas Gerenciais

36

27

-9

Atitudes e Valores

39

32

-6

Infraestrutura

Este fator combina indicadores de infraestrutura básica (estradas, portos, aeroportos, energia) tecnológica (telefonia, internet, etc), científica (pesquisa e desenvolvimento), educação básica e superior, saúde e meio ambiente. Os resultados de 2014 se caracterizam por indicadores críticos principalmente em infraestrutura básica, tecnológica e na educação. O país ocupa as últimas posições em praticamente todos os indicadores de percepção da qualidade da mão-de-obra e da educação técnica e fundamental. Indicadores como o teste de PISA, que avalia a proficiência de jovens de 15 anos em leitura, matemática e ciências (49ª posição), avaliações de línguas estrangeiras, como o Toefel (46ª posição), e o indicador de matrículas em cursos secundários, com pouco mais de 80% da população em idade escolar matriculada nas escolas, reiteram a condição defasada e ineficiente da educação no Brasil. O país também ficou na posição 59 no indicador de Infraestrutura de Saúde, o que demonstra a carência brasileira neste setor.

Sem grandes novidades, o relatório reitera o que é sabido sobre a qualidade da infraestrutura básica brasileira. No último lugar dos indicadores de opinião sobre a qualidade da infraestrutura rodoviária e logística, o relatório demonstra a preocupação da comunidade empresarial com a oferta futura de energia (54ª posição) e com a gestão das cidades brasileiras como plataformas locais para o desenvolvimento da competitividade e das atividades empresariais (58ª posição no item Qualidade de Gestão das Cidades).

“É importante ressaltar que o país ainda mantém um percentual significativo do PIB investido em educação e saúde, o que é um resultado positivo, pois mostra que há interesse e atitudes voltadas para a melhoria destes dois fatores. Porém, diante dos resultados negativos do país nestes pilares, é preciso refletir se esses gastos estão realmente sendo feitos da forma eficiente e em que medida as ações estão corretamente direcionadas”, comenta Arruda. “Se o Brasil é o 23º país que mais investe em saúde, por que ocupa a 59ª posição na infraestrutura deste setor? “

2014

2013

Δ

Infraestrutura

52

50

-2

Básica

58

55

-3

Tecnológica

57

57

=

Cientifica

37

36

+1

Saúde e Meio-Ambiente

40

35

-5

Educação

55

56

+1

A Fundação Dom Cabral é uma escola de negócios brasileira que há 37 anos tem a missão de contribuir para o desenvolvimento sustentável da sociedade, por meio da educação, capacitação e desenvolvimento de executivos, empresários e gestores públicos. Circulam anualmente pelos seus programas abertos, fechados, de parcerias e de pós-graduação (especialização, MBA e mestrado) cerca de 35 mil executivos de empresas e organizações de pequeno, médio e grande porte do Brasil e de vários países. No campo social, a FDC desenvolve iniciativas de desenvolvimento, capacitação e consolidação de projetos, líderes e organizações sociais, contribuindo para o fortalecimento e o alcance dos resultados pretendidos por essas entidades. A FDC é a melhor escola de negócios da América Latina segundo o Ranking da Educação Executiva 2014 do jornal inglês Financial Times e o Ranking das Melhores Escolas de Educação Executiva da América Latina da revista AmericaEconomia (2013).

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Via: economiasc.com.br