Rodrigo Bertozzi*
Diante de uma sociedade cada vez mais exigente, sedenta por novidades que facilitem o dia-a-dia, vem crescendo o número de startups que nascem de uma ideia inovadora, ligadas à tecnologia ou não, que despejam no mercado uma gama de produtos e serviços. Se engana, no entanto, quem pensa que é fácil abrir e, principalmente, manter uma empresa desse tipo. Nove em cada dez startups ‘quebram’, de acordo com Guilherme Junqueira, diretor executivo da Associação Brasileira de Startups (AB Startups).
É preciso diminuir a taxa de mortalidade dessas empresas em estágio inicial. Tentar crescer prematuramente é o maior motivo do fechamento, como comprovou pesquisa do Startup Genome, projeto da aceleradora americana Blackbox.
“Entre as dificuldades mais comuns, estão a falta de conhecimento sobre o mercado de atuação; a falta de identidade da marca – um diferencial; a falta de planejamento; e a falta de controle financeiro, consequência de uma gestão desorganizada. Por isso a importância do apoio de profissionais experientes, para que, desde a concepção do projeto, todos os pontos sejam bem avaliados”, afirma Priscila Spadinger, Executiva de Negócios da B2L Investimentos, especialista em startups.
O perfil mais comum nesses novos negócios é o de jovens empreendedores sem medo de arriscar, com pouco dinheiro e muitos sonhos. No Brasil, existem mais de 10 mil empresas com esse perfil e, segundo dados da Anjos do Brasil – associação que reúne investidores – , entre junho de 2012 a julho de 2013, o investimento destinado a startups cresceu 25% no Brasil, somando 619 milhões de reais.
Apesar do crescimento nos investimentos, os desafios são grandes. O primeiro deles é a necessidade de ter gestores bem preparados. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 49% das empresas fecham as portas por problemas financeiros de gestão. O investimento, com pouco ou muito dinheiro, precisa ser bem alocado e planejado.
E nesse tipo de negócio, uma forma ainda comum de financiamento é a dívida, seja pessoal ou corporativa, que causa uma alta mortalidade de negócios. Um meio mais seguro e ainda não muito conhecido de financiamento são os fundos de investimentos.
“Existem muitos recursos financeiros provenientes de fundos de investimentos, de empresários de outros setores, que querem diversificar o portfólio. O que falta são bons projetos. O segmento de investidores se profissionalizou no Brasil mais rápido que as startups. O resultado prático é que, as vezes, um projeto mediano recebe investimentos e outros que poderiam ser grandes casos de sucesso, por não fazerem a lição de casa, não tem poder de atração”, explica Rodrigo Bertozzi, CEO da B2L Investimentos.
Problemas também ocorrem pela falta de pesquisa e conhecimento do setor onde se está investindo. Muitas empresas superestimam o potencial de mercado de seu produto ou serviço e não realizam testes com os consumidores antes de iniciar o empreendimento. Outra grande dificuldade enfrentada, principalmente na área de negócios digitais, é a novidade deste ciclo econômico em um cenário onde reformas estruturais ainda não foram feitas. A falta de reformas políticas, fiscais e previdenciárias afeta a competitividade.
A concorrência também é um ponto a ser analisado. Hoje um produto é lançado e rapidamente aparece um similar concorrente. Porém, é possível tirar proveito disso. Firmar parcerias com empresas maiores pode facilitar o crescimento e aprimorar os serviços oferecidos.
Diante das dúvidas e dificuldades, o que vem atraindo recém-empreendedores são as aceleradoras de startup. Nos moldes de uma consultoria, elas oferecem um pacote completo para empresas iniciantes com escritório, sessões de aconselhamento com profissionais gabaritados (mentores), palestras e um investimento pequeno em troca da parceria no negócio. Desde 2011, 39 aceleradoras foram criadas no País, segundo a AB Startups. Desse total, cerca de 25% abriram as portas no último ano.
E o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) possui o programa Start-Up Brasil, para acelerar o desenvolvimento de novas empresas de base tecnológica. No último edital, 62 empresas (53 nacionais e nove estrangeiras) foram aprovadas, de um total de 709 projetos inscritos. Elas terão que se associar a uma das nove aceleradoras habilitadas no programa. Em troca da participação societária, estas startups vão receber, durante um ano, até R$ 200 mil em bolsas do CNPq para custeio de despesas com salário e terão ainda acesso a outros R$ 36 milhões.
Porém, há quem veja as aceleradoras com desconfiança por exigirem participações muito altas no negócio. O teto do Start-Up Brasil, por exemplo, é de 20%, valor considerado alto no mercado para investimentos. Esse percentual pode variar entre R$15 mil e R$100 mil. Por isso, a taxa de empresas que deixam o programa é de cerca de 20%, índice considerado mais alto do que o previsto, estimado inicialmente em 10%.
“Temos que ver a meta do investidor e a meta do empreendedor. Mesmo que haja critérios diferentes de cada investidor para decidir pelo negócio, eles buscam sempre negócios repetíveis, escaláveis, com mercado bem definido e diferencial competitivo. Assim, um ponto que o empreendedor deve estar atento é o perfil do investidor que ele precisa para alavancar seu negócio. Nem sempre o dinheiro resolve, mas sim um mentor que o ajude a direcionar sua ideia”, comenta a consultora Priscila Spadinger.
É neste cenário que atua a B2L Investimentos, empresa de negócios formada por 47 sócios, a maioria advogados da área empresarial que atuam regionalmente em diversas cidades do país, direcionando projetos, discutindo estratégias e orientando a percepção do jovem empreendedor. As startups hoje já representam 2,86% dos negócios da B2L. E ainda há muito a crescer.
*Rodrigo Bertozzi é CEO da B2L Investimentos
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