*Neri dos Santos
Para a infelicidade do Brasil e dos brasileiros, constata-se hoje que a tendência de instabilidade se acentuou de forma significativa. Os números publicados pelo IBGE na semana passada, confirmam que a economia brasileira entrou em recessão técnica com recuo de 0,6% no último trimestre.
Este relaxamento tem provocado uma intranquilidade nos investidores e uma consequente forte desaceleração econômica do País. De fato, o tripé macroeconômico foi substituído por uma nova matriz econômica, baseada na oferta de crédito e no consumo das famílias. Todavia, a retração nas vendas de produtos de consumo duráveis, evidencia que este modelo está no seu limite. A queda das vendas em 2014 poderá alcançar 20%, em relação às vendas de 2013. Este resultado é devido ao endividamento das famílias, à redução de confiança dos consumidores e aos juros e à inflação em alta, que estão levando os brasileiros a reduzir o ritmo de consumo.
Esses fatores têm provocado, ao longo deste ano, uma desaceleração do comércio depois do forte ritmo registrado nos últimos anos. Até então, o consumo vinha se mantendo como o principal vetor de crescimento da economia brasileira. Na realidade, o crescimento econômico do Brasil continua a ser muito baixo (devendo fechar o ano de 2014 próximo de zero, segundo projeções do mercado) para financiar o nosso modelo social. Para garantir um crescimento sustentável do País, o ponto chave é o investimento, que vem caindo sistematicamente neste ano, chegando a 16,5% do PIB no último mês de julho.
Da mesma forma, a balança comercial brasileira que já tinha registrado um superávit (exportações menos importações) de apenas US$ 2,56 bilhões em 2013, terá este ano um resultado, ainda, pior. Na quarta semana de agosto de 2014, a balança comercial registrou déficit de US$ 214 milhões, resultado de exportações no valor de US$ 4,308 bilhões e importações de US$ 4,522 bilhões. No mês, as exportações somam US$ 15,110 bilhões e as importações, US$ 14,976 bilhões, com saldo positivo de apenas US$ 134 milhões. No ano, as exportações totalizam US$ 148,665 bilhões e as importações, US$ 149,450 bilhões, com saldo negativo de US$ 785 milhões, já superando o déficit histórico de 2000. Infelizmente, os níveis atuais dos gastos públicos e, principalmente, a ineficiência em sua aplicação, têm sido fatores restritivos ao nosso crescimento.
Neste cenário, dificilmente se pode esperar o benefício de reformas políticos-institucionais macroeconômicas imediatas, capazes de aliviar o peso absurdo do Estado Brasileiro sobre a sociedade (atualmente a sua maior fragilidade) e abrir caminho para a modernização e a desburocratização, condição sine qua non para o País alcançar uma maior capacidade competitiva.
Num cenário futuro, a capacidade de poupança e de investimento dos setores público e privado deverão ser a mola propulsora do crescimento econômico do Brasil. Entretanto, o principal desafio para o País é encontrar um novo modelo de desenvolvimento. Sem dúvida, o desafio para o próximo governo é criar as condições para o reinício de gerar ganhos de produtividade e influenciar a mudança do ciclo econômico atual, desindexando totalmente a economia brasileira e retomando o tripé macroeconômico com a definição de metas de inflação, que tenham uma convergência para o centro e não para o teto da meta e que sejam críveis e respeitadas pela sociedade brasileira, evitando o controle artificial de preços, como vem sendo feito atualmente com os combustíveis e a energia. Aliás, como em todos os países desenvolvidos que adotam o regime de metas de inflação, definitivamente o Brasil tem que ter um Banco Central independente, garantido por lei, com mandato fixo para o presidente e de todos os seus diretores, com regras claras para as suas respectivas nomeações e eventuais destituições.
Este é o cenário que a sociedade brasileira espera do futuro governo e que o setor empresarial tem como expectativa, para poder produzir em um ambiente que seja favorável e seguro aos negócios.
*Neri dos Santos é diretor da Knowtec e professor sênior do Departamento de Engenharia do Conhecimento da UFSC.
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Via: economiasc.com.br