*Por Fernando Neves e Alessandra Borelli
Proibir o uso de celulares em sala de aula tem sido uma medida considerada óbvia e natural diante da forte atração que esses aparelhos exercem sobre os estudantes. E esta proibição vem sendo exercida tanto por advertência verbal e ameaças de punição quanto por meios técnicos, como a negação de acesso a celulares no Wi-Fi da instituição de ensino.
Mas a falta de atenção não é tudo, e há outras justificativas perfeitamente compreensíveis para se aumentar ao máximo as restrições da rede sem fio, tais como os riscos de invasão, a permeabilidade para conteúdos impróprios, o assédio de grupos pedófilos e diversas modalidades de ações perniciosas a que uma rede aberta ao mundo costuma atrair.
O fato concreto, porém, é que o resultado dessas restrições é quase sempre frustrante. Primeiro, porque a negação ao Wi-Fi não livra o ambiente escolar da disputa entre o conteúdo da lousa e o das redes sociais, já que a maioria dos usuários dispõe de acesso 3G com menor ou maior abundância.
Em segundo lugar estão os grandes inconvenientes impostos pelo próprio bloqueio técnico. Ao blindar a rede de navegação do ambiente acadêmico contra o acesso de dispositivos móveis, o que a escola está fazendo é abrindo mão de um recurso que, inegavelmente, poderia ser de grande ajuda no processo de aprendizado. Ou seja, matar a possibilidade de uso da Internet móvel, em função dos riscos de mau uso dessa tecnologia, é simplesmente abdicar de seus enormes benefícios em potencial para a melhoria da qualidade de ensino.
Ainda, importante lembrar que o Marco Civil da internet, em seu artigo 7º assevera o princípio da inclusão digital como um direito essencial do indivíduo. Portanto, apesar de compreensível a atitude, a proibição do uso da tecnologia no ambiente escolar não se coaduna com os anseios de uma jovem sociedade da informação.
Por outro lado, ainda que as ocorrências negativas na internet tenham se dado fora do ambiente físico da escola, são inegáveis os reflexos que, inevitavelmente, recaem sobre estas instituições, uma vez que os autores e vítimas dos conflitos digitais são os mesmos dentro e fora da sala de aula.
Vamos citar como exemplo o aplicativo “do momento”, o Secret. O artigo 5º, inciso IV da CF concede ao cidadão o direito a liberdade de expressão. Entretanto, atribui uma relatividade a este direito, no momento em que veda expressamente o anonimato; ou seja, você pode dizer o que pensa, mas, de acordo com o inciso X do mesmo artigo, se extrapolar desse direito, ofendendo a honra, a intimidade ou a imagem de terceiro, terá que reparar o dano.
Com relação ao “anonimato” na internet, cumpre ressaltar que, além dos rastros digitais inerentes a qualquer tipo de navegação neste ambiente, o próprio Secret, em seu termo de uso, deixa claro que dispõe de informações de seus usuários e que, se demandado a disponibilizá-los para fins de investigação, o fará.
E então, pensando nesta juventude hiperconectada, a pergunta que não quer calar é: por que a “oportunidade” do anonimato os instiga tanto à prática de ofensas e outros tantos ilícitos? Um fato curioso é que o próprio aplicativo sugere manifestações gentis, além de colocar um canal de denúncia à disposição para solicitação de retirada de posts que contrariam as boas práticas, além da punição ao infrator, de perda ou suspensão de acesso.
Então veja, será mesmo que proibir é a melhor solução? Ou será que disponibilizar com supervisão, educação, controle, regras de uso e medidas disciplinares claras e objetivas não seria o caminho efetivo para a construção do cidadão digital ético e responsável que queremos?
Infelizmente não podemos simplesmente tirar de circulação tudo que possa representar riscos, mas, sem dúvida, podemos nos cercar dos mecanismos que os mitiguem.
Para encarar de frente a questão, um ponto essencial a se considerar é: como conseguir manter a concentração do aluno para os assuntos acadêmicos, diante de uma monótona aula de história, quando seu smartphone – rápido e cheio de recursos- o convida incessantemente para experiências muito mais dinâmicas e interativas?
Enquanto muitos ainda partem para a tática do avestruz e tentam negar – sem consegui-lo – o uso dos dispositivos móveis na escola, já existe na indústria mundial um diálogo bastante avançado entre educadores e fabricantes de soluções de rede para encontrar uma via mais racional e produtiva.
E já que o uso dos mobiles em sala de aula é inevitável, a única via razoável é usar esta atração dos jovens pela tela do smartphone como um caminho estratégico para fortalecer a empatia e a engajamento dos estudantes em relação aos conteúdos educacionais.
Como parte desse diálogo, surgiu no mercado, há alguns meses, uma nova proposta de combinação de redes Wi-Fi de alta segurança associada a um ambiente protegido de rede social que permite a criação de seções privativas de redes como Facebook ou Instagram para os alunos e professores de uma determinada escola.
Na Inglaterra, por exemplo, uma tradicional escola secundária, a Dovercurt High School, instalou uma solução wireless de prevenção contra intrusão (WIPS) combinada com um novo modelo de aplicação desenvolvido pela AirTight sob a denominação Wi-Fi Social.
Do ponto de vista da segurança, essa nova abordagem garante redes Wi-Fi com capacidade para reconhecer e cadastrar os smartphones, tablets e computadores móveis dos alunos, professores e funcionários, acompanhando rigorosamente suas ações para que não haja uma explosão de uso recreativo ou pouco seguro na rede. Ações temerárias, como a cola eletrônica, ou o bullying virtual, também são coibidos através de recursos lógicos à disposição do gestor.
Esta mesma tecnologia fareja e acusa a presença de possíveis invasores no perímetro e promove a imediata exclusão de smartphones que não sigam as boas práticas.
Juntamente com a solução de acesso, vem uma abundância de recursos de rede que viabiliza as escolas a empregar conteúdo acadêmico muito mais atraente, empregando mecanismos públicos de busca e viabilizando conteúdos ricos multimídia que demandam largura de banda e que, em geral, são muito sensíveis a questões de segurança.
O mais recente trunfo, porém, está na abordagem Wi-Fi Social, na qual a criação de uma rede social privada, sobre a plataforma da rede social pública, é feita a partir de funcionalidades prontas para o uso e de emprego intuitivo pela direção da escola.
Com isto, o perfil de Fecebook escolar, por exemplo, carrega todas as garantias de um ambiente fechado da comunidade para relacionamentos intraescola, tal como a realização de trabalhos em grupo, ou a troca de informações individuais entre o aluno e o professor.
Mas, partes deste mesmo ambiente podem ser reproduzidas no perfil de cada aluno, ajudando a multiplicar a visibilidade positiva da instituição de modo a divulgar seus conteúdos, suas atividades e sua metodologia, atraindo mais e mais alunos. E também favorecendo o relacionamento dos alunos entre si, especialmente quando isto envolve assuntos relativos à escola.
Cada escola irá definir os níveis de participação na comunidade, por exemplo, envolvendo ou não os pais de alunos na rede social.
No limite, a tecnologia também viabiliza a realização de provas via smartphones, o controle de presença de alunos via GPS e a realização de aulas virtuais ou gincanas escolares envolvendo inúmeras escolas.
Embora pareça distante, o uso dessa tecnologia já está sendo avaliado no Brasil desde o último mês de maio, quando seu funcionamento foi apresentado a professores e gestores escolares na feira Educar, em São Paulo.
E a julgar pela rapidez com que a mobilidade avança, não é inverossímil pensar que, num espaço de dois a quatro anos esse modelo já esteja disseminado no Brasil. No que se refere às escolas particulares, praticamente não há dúvida quanto a isto. Resta saber se o poder estatal terá agilidade e coordenação suficiente para democratizar o acesso dessa tecnologia para as grandes massas de estudantes do ensino público.
*Fernando Neves é presidente da AirTight Networks e Alessandra Borelli é CEO da Nethics Educação Digital
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Via: economiasc.com.br