17 out 2014

Empresário e trabalhador devem buscar a parceria

Claudio João Bucco é economista e empresário. Foto: Thiago Tribess/Divulgação

Claudio João Bucco é economista e empresário. Foto: Thiago Tribess/Divulgação

Por Jéssica Sant’Ana

O empresário e o trabalhador devem estabelecer uma relação de parceria para contribuir com uma sociedade mais justa. Essa é a visão do empresário e economista catarinense Claudio João Bucco que lançou na terça-feira, dia 14, o livro “Uma justa contratação – Reflexões para uma nova Relação de Trabalho / Série K + T”. Na obra, o autor esclarece as vantagens e os obstáculos da relação trabalhista através da simulação de um diálogo de entrevista de emprego. O formato é para simplificar temas como legislação trabalhista e tributária.

E, para que se possa alcançar essa parceira entre capital e trabalho, o autor defende que 5% é uma margem de lucro adequada para o empreendedor e que a produtividade é o meio para o trabalhador alcançar ganhos maiores. Em entrevista ao Portal EconomiaSC, Bucco analisa o que motiva o empresário a continuar investindo e fala sobre como a revolução tecnológica interferiu nas relações de trabalho.

No livro, o senhor afirma que é necessário haver uma parceria entre capital e trabalho para relações mais justas. Quais são os obstáculos desta parceria na relação trabalhista e quais são as vantagens tanto para o empresário quanto para o trabalhador?

O obstáculo é que o capital e o trabalho têm que pagar pela atitude deles de falta de confiança para que se tenha uma relação custo benefício vantajosa. Por si só, o capital e o trabalho seriam suficientes nessa relação, mas em função da dinâmica do ser humano gerou-se ao longo do tempo uma série de custos adicionais. Você precisa estabelecer alguém para defender as partes, que é o sindicato, alguém para fazer a lei, que é o governo, e depois alguém para fiscalizar e para julgar. Criam-se estruturas para fiscalizar e julgar as atitudes que geram desconfiança, e quem paga por tudo isso é o capital e o trabalho. A desvantagem que eles têm por não conseguirem criar uma parceria harmoniosa entre si é que eles precisam produzir muito mais, trabalhar muito mais, para sustentar toda essa estrutura necessária. Então eles pagam por essa indisciplina moral deles.

A vantagem maior para ambas as partes é na questão da qualidade de vida, de quanto você vai ser mais ou menos feliz. Você é mais feliz quando está em um ambiente de trabalho que você gosta, que você faz com alegria, com dedicação e, acima de tudo, honestidade. O capital nunca pode pagar menos do que o estabelecido de salário, e o trabalhador nunca pode dar menos do que as horas oferecidas para ele trabalhar.

Qual seria a fórmula de sucesso para essa parceria entre o capital e o trabalho?

A produtividade. Ela é muito mais justa, porque compromete ambas as partes. Só o que for bom para os dois vai gerar algo produtivo. O reflexo dessa relação vai impactar na qualidade de vida, nos momentos de felicidade. Hoje, na modernidade, a relação de trabalho é indispensável pela sociedade. O trabalho é o lugar onde você passa a maior parte do tempo. Eu diria que mais de 50% da vida da gente depende ou é direcionada pelo ambiente de trabalho.

Qual é o retorno social que a empresa deve proporcionar para a sociedade?

O capital social que o empreendedor deve buscar é se envolver na administração da gestão pública. Nós, por conta de uma possibilidade de crescimento muito grande, abandonamos a gestão pública. O líder tem que fazer com que as coisas sejam justas para todos.

O senhor cita no livro o “custo Brasil”, dando exemplos práticos de quanto precisamos produzir para conseguir comprar algo. Como o senhor avalia os impostos e as taxas no País?

Se você avaliar de maneira geral, a carga tributária brasileira não é a maior do mundo e sim uma das maiores. O que não se discute é que o capital e o trabalho pagam por tudo isso e recebem muito pouco em troca, o que acaba sendo custoso. O que você paga para o governo te dar em forma de benefícios nunca é caro, desde que você receba proporcional aquilo que foi pago. O que se torna caro é a situação de você pagar e não receber em troca o equivalente.

Segundo pesquisa citada no livro, realizada pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) em abril de 2013, entre os países com maior carga tributária, o Brasil continua sendo o que proporciona o pior retorno dos valores arrecadados. Diante desse cenário e da alta carga tributária, o que leva o empresário a continuar empreendendo?

Sempre vai ser a possibilidade de ganho, porque o Brasil é um país com possibilidade de rentabilidade muito grande, pois é jovem, rico e aqui se produz de tudo. Então, o que leva o empresário a investir é a possibilidade desse ganho, mas também a impossibilidade de outra alternativa. Muitos investem por status e a cultura do empreendedor brasileiro ainda é de ganhos astronômicos em muito pouco tempo. E isso nunca foi possível, principalmente para o pequeno e médio empresário.

O outro motivo está na característica empreendedora das pessoas, pois quem é empreendedor nunca vai conseguir deixar de ser. Esse espírito vem da necessidade que nossos antepassados tiveram, porque, naquela época, era tudo muito difícil, então, para não passar fome a alternativa era criar um negócio. Isso gerou automaticamente uma necessidade muito grande de acumular para se prevenir de possíveis crises. O outro aspecto interessante é a necessidade de status, já que a maioria dos empresários nasce de profissionais com carreiras bem sucedidas em empresas maiores que saem do seu emprego para empreender, mas não se preparam para isso. Por isso que tantas empresas abrem e fecham em um curto espaço de tempo.

Há um grande debate sobre a legislação trabalhista no País. Enquanto alguns afirmam que ela prejudica a competitividade e desestimula a criação de novos empregos, outros afirmam que deve haver uma reformulação na lei para atender melhor os direitos dos trabalhadores no atual mercado de trabalho. Qual é a sua visão sobre o assunto?

Não tenho dúvidas que a legislação trabalhista brasileira precisa ser revista. O grande gargalo que está aí é na cultura que se criou de que sempre o mais fraco ou mais pobre tem razão. Essa visão de que o trabalhador só tem direitos não é realidade. Ele não se vê com nenhuma obrigação e, consequentemente, a produtividade cai. Ele também não se sente na obrigação com ele mesmo de evoluir profissionalmente. Mas, nessa relação, o mais fraco precisa muito do mais forte, então eles deveriam ser aliados.

Como as revoluções tecnológicas interferiram nas relações de trabalho atual?

A tecnologia evoluiu de uma forma positiva, porque a humanidade precisa do progresso. O trabalho precisa do progresso, essas são as leis da natureza. Para que se tenha progresso, para que se dê vazão a toda a necessidade de consumo, haveria que ter tecnologia. Ela obriga a pessoa a aprender, estudar e culturalmente se desenvolver para entender aquilo que a tecnologia está propondo e, depois, trabalhar com ela. Não vejo que a tecnologia vem para tirar mão de obra. O ser humano vai sempre tentar se adequar. É uma relação complementar, extremamente necessária e eu acho saudável para o desenvolvimento.

Hoje, o trabalhador moderno é multitarefa. Quais são as consequências desse acúmulo de funções?

Tudo o que traz conhecimento é positivo. O que você leva de uma empresa é o que você aprende nela. O que precisa ser revisto melhor é qual é a remuneração que você recebe por prestar mais esse serviço, porque aí naturalmente se eu tenho um reajuste de redução de custo por não precisar trabalhar com duas ou três pessoas, eu deveria distribuir isso.

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Via: economiasc.com.br