Iniciativa começou após chamada da FIFA, em oferecer os produtos para delegação Foto: Divulgação

A Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) e a Secretaria do Meio Ambiente, por meio da Ação estadual São Paulo Orgânico, capacitou, em um ano, 231 técnicos que trabalham com Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) para atendimento a produtores rurais que tenham interesse em cultivar alimentos orgânicos. A iniciativa veio atender a uma chamada da Fédération Internationale de Football Association (FIFA), que solicitou aos Estados brasileiros sede da Copa do Mundo de futebol o desenvolvimento da agricultura orgânica a fim de disponibilizar os produtos para as delegações internacionais e aos turistas. De dezembro de 2012 a maio de 2014, a APTA já realizou onze edições do Curso de Capacitação em Agricultura Orgânica e Sustentável para Técnicos da Extensão Rural.

Este ano, até maio, os pesquisadores da Agência já realizaram quatro edições do segundo módulo do curso, iniciado a partir da demanda dos próprios técnicos para contemplar áreas específicas, como hortícolas, frutas, cereais, cana-de-açúcar e café. O segundo módulo está sendo realizado em cidades onde há produtores orgânicos dessas culturas, com o objetivo de proporcionar treinamentos práticos. “Este é o nosso legado da Copa do Mundo. Os técnicos de ATER que nunca tinham trabalhado com agricultura orgânica estão se capacitando, a partir da chamada da FIFA e da ação do Governo do Estado. Esse é um passo importante para aumentar a oferta de produtos orgânicos aos consumidores”, afirma Sebastião Wilson Tivelli, pesquisador da APTA, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.

De acordo com Tivelli, ainda é cedo para estimar se houve aumento na produção de orgânicos por conta desses treinamentos, mas ele afirma que o Estado conseguiu se mobilizar para atender ao chamado da Copa do Mundo. “Exemplo disso é a rodada de negócios que a Secretaria de Agricultura e do Meio Ambiente está promovendo na BioBrazil Fair 2014, colocando produtores de orgânicos e compradores para negociar. O Governo Federal também abriu licitação para fornecimento de produtos orgânicos para os voluntários da Copa”, afirma. O Estado de São Paulo recepciona 15 das 32 delegações que participam do mundial.

Nos onze cursos ofertados do módulo, participaram 231 técnicos da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) e da Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (ITESP), provenientes de todas as regiões do Estado de São Paulo. A CATI enviou pelo menos dois técnicos de cada um dos 40 Escritórios de Desenvolvimento Rural (EDR) que possui no Estado. “Dentre os técnicos capacitados, está parceiros de projetos da Prefeitura de Santos, São Paulo, Sorocaba, além do Sindicato Rural de Ibiúna, entre outras”, diz Tivelli.

No segundo módulo, quatro cursos foram ministrados, sendo dois em hortícolas e dois em fruticultura. “É interessante observar que quando esses técnicos voltam para fazer o segundo módulo, contam como têm sido o trabalho em suas regiões. Todos eles, até o momento, contaram que estão assessorando ao menos um produtor rural, ou seja, estão replicando o conhecimento”, diz o pesquisador da APTA. Tivelli explica que os técnicos rurais não tinham nenhuma formação em agricultura orgânica e agroecologia, por isso, quando eram procurados por produtores de orgânicos, ou pelos tradicionais, mas que queria transformar suas produções, não conseguiam atendê-los. “Agora, vemos uma mudança de postura”, afirma.

O Governo do Estado investiu R$ 276.830,00 nos treinamentos, aplicados no pagamento de despesa de hospedagem, alimentação e deslocamento dos participantes. Uma parte do recurso também foi utilizada na aquisição de ingredientes para as aulas práticas.

Segundo Tivelli, um dos princípios da produção orgânica está na venda de produtos na própria região onde são produzidos, promovendo assim o comércio local e diminuindo a pegada de carbono, já que não seria necessário realizar o transporte dos alimentos por meio de caminhões. “Esse princípio é muito importante, mas pouco aplicável em nosso Estado. Um a cada cinco habitantes brasileiros vivem em São Paulo e temos aqui grandes centros urbanos, como a Capital e Campinas, por exemplo. Os produtores próximos a esses locais não conseguem atender toda a demanda, por isso, temos que importar os orgânicos de outras localidades”, afirma.

A Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento em Agricultura Ecológica da APTA, localizada em São Roque, interior paulista, é a única do governo do Estado de São Paulo a ser 100% orgânica. Pioneira nos estudos no Brasil, desde 1994 a APTA realiza pesquisas com orgânicos. “Somos referência nesses trabalhos, por isso, fomos escolhidos para ministrar os cursos”, afirma Tivelli. Entre as principais contribuições está o desenvolvimento do biofertilizante japonês bokashi, 40% mais barato, com a substituição de algumas matérias-primas. Essa tecnologia da APTA conseguiu aumentar a produtividade do tomate orgânico em seis vezes.

Uma unidade de pesquisa da APTA localizada em Itararé está sendo certificada para disponibilizar aos produtores sementes de batata orgânica. As sementes devem começar a ser disponibilizadas em 2015 e as batatas, desenvolvidas pelo Instituto Agronômico (IAC-APTA), de Campinas, têm excelente qualidade culinária, sendo ideal para o preparo de chips e purê.

“Os trabalhos de pesquisa do IAC-APTA sempre tiveram como meta o desenvolvimento de cultivares resistentes ou tolerantes a pragas e doenças, além de fatores críticos de clima e solo. Isso hoje é fundamental para que os materiais desenvolvidos possam ser utilizados na agricultura orgânica, em que o controle químico não é permitido”, afirma Orlando Melo de Castro, coordenador da APTA. Castro explica que a APTA vem adequando unidades regionais para a produção de sementes orgânicas de espécies de interesse dos produtores para futura disponibilização aos interessados.

A Ação São Paulo Orgânico consiste em quatro pilares básicos: uma linha de crédito para financiamento com juros subsidiados para o período de transição na agricultura orgânica, disponibilizado pelo Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista (FEAP), a oferta de cursos de capacitação em agricultura orgânica e sustentável, a aproximação do produtor e consumidor, que é realizada com a rodada de negócios da BioBrazil Fair e a produção de sementes orgânicas.

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Via: economiasc.com.br