Por Reginaldo Gonçalves
Chegou o grande dia. Nesta quinta-feira, dia 12, as luzes do maior espetáculo da terra se acendem sobre Itaquera. O bairro popular da zona leste da cidade de São Paulo recebe a abertura da Copa Fifa 2014, com o jogo Brasil e Croácia. Além de brasileiros de todas as partes do país, a região recebe turistas das mais diversas nacionalidades. É algo inédito, sem dúvida.
Como inéditas também são as perspectivas geradas pelas obras no entorno da Arena Corinthians, o Itaquerão, palco do grande espetáculo, que irão favorecer a integração com os bairros próximos e com o Alto Tietê (que compreende alguns municípios da Grande São Paulo, além de Guarulhos e ABCD).
O crescimento do comércio, novas instituições de ensino, hospital e as obras de infraestrutura, incluindo o novo terminal rodoviário integrado à ferrovia e ao metrô, aumentará o número de empresas e contratações, permitindo a melhoria da qualidade de vida de sua população. Já há algum tempo o movimento imobiliário vem valorizando significativamente os imóveis locais.
De acordo com dados da prefeitura do município de São Paulo, a região onde está inserido o bairro de Itaquera tem cerca de 298,8 quilômetros quadrados e 3,6 milhões de habitantes. Somente a Zona Leste representa cerca de 33% da população de 10,7 milhões de habitantes da cidade. Em um país onde a desigualdade social é grave, vários distritos da Zona Leste estão entre os piores em relação ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que mede a vulnerabilidade à morte, privação de conhecimento e padrão de vida digno. Cerca de 65,6% dos habitantes têm entre 15 e 59 anos, o que os insere na faixa de população economicamente ativa.
Durante muitos anos, a região de Itaquera e os bairros vizinhos foram excluídos de investimentos voltados à melhoria da qualidade de vida, seja no transporte, habitação, saúde ou educação. Esta situação somente está sendo minimizada graças a parceria público privada que iniciou através de Organizações Não Governamentais (ONGs) e empresas do terceiro setor, voltadas especialmente para a cobertura da saúde e agora a Arena Corinthians. Entre elas, podemos citar a implantação da ETEC e FATEC, a possibilidade de implantação de Centro Comercial, a extensão do Rodoanel que atenderá a região do Alto Tietê, além do incremento de empresas na região. Tal movimento gera a necessidade de profissionais qualificados para serem facilitadores dos novos negócios que beneficiarão uma série de micro e pequenas empresas.
Deverão ser despendidos todos os esforços para a qualificação profissional da população local, para que esta possa auxiliar os empresários neste crescimento, fundamental para a melhoria contínua do entorno e, consequentemente, da qualidade de vida de todos.
Apesar desse cenário de boas perspectivas e algumas iniciativas, a região ainda é carente de especialistas em áreas essenciais aos negócios, como contadores e administradores. A competência aliada à prática poderá modificar o perfil das empresas locais e torná-las mais competitivas no cenário econômico regional.
Em função da situação de desigualdade social na região, é significativa a constituição de empresas no terceiro setor. São ONGs de todas as áreas de atividade, sendo criadas para minimizar a situação de carência educacional, financeira e da saúde. A sua manutenção depende de prestações de contas que sejam feitas de forma eficiente, garantindo a continuidade dos serviços.
A carência profissional existente se estende além do entorno. Mesmo com profissionais sendo formados, inclusive na região, a migração para outras localidades, em virtude de um maior potencial salarial, é evidente. As mudanças regionais e de infraestrutura e logística já começam a mudar esse perfil. O preparo de profissionais com competências agregadas e com conhecimento das necessidades da região poderá ser um facilitador para melhora regional e maior interesse por novas empresas a se instalarem na região.
Preocupações extras vêm sendo percebidas, como mudanças na legislação, pressão do governo por mais impostos e a necessidade de manutenção da mão de obra. Entretanto, na área contábil e administrativa há um apagão, em virtude do aumento das exigências por profissionais mais qualificados. Pesquisa realizada pela consultoria Grant Thornton em 2011 já coloca o aspecto burocrático exigido pelos órgãos públicos como limitador na capacidade de crescer e expandir as empresas brasileiras.
Aos profissionais da área contábil e administrativa cabe o compromisso de agirem de forma ética e responsável na condução dos negócios das organizações para que esse quadro se reverta, principalmente observando as atividades empreendedoras que possam melhorar a qualidade de vida de uma população carente, mas que demonstra vontade e esforço para promover mudanças. Esse é o momento de Itaquera, bairros e municípios limítrofes aproveitarem o potencial de crescimento que será gerado pela Arena Corinthians para estimular os empreendedores como um todo.
Tenho convicção que este cenário ocorre em outras localidades em que foram construídas arenas para a Copa. Agora que chegou a hora do espetáculo, precisamos pensar nas coisas boas que podemos colher, com a criatividade característica do povo brasileiro, diante das oportunidades deixadas pela Copa. Nem tudo são flores, mas é leviano dizer que tudo se perderá. E que venha o hexa!!
* Reginaldo Gonçalves é coordenador do curso de Ciências Contábeis da Faculdade Santa Marcelina – FASM
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