Indicador da FGV demonstra ambiente financeiro mais negativo desde 2009. Foto: Divulgação
O indicador Ifo/FGV de Clima Econômico da América Latina (ICE) de julho – elaborado em parceria entre o Instituto alemão Ifo e a FGV tendo como fonte de dados a Ifo World Economic Survey (WES) – recuou de 90 para 84 pontos entre abril e julho, atingindo o menor nível desde julho de 2009, quando registrou 80 pontos. A queda na margem foi influenciada principalmente pela evolução do Índice da Situação Atual (ISA) que, no mesmo período, caiu de 82 para 72 pontos, o menor nível desde outubro de 2009, enquanto o Índice de Expectativas (IE) ficou relativamente estável, ao passar de 98 para 96 pontos. Pelo segundo trimestre consecutivo, os três indicadores síntese da pesquisa ficaram na zona desfavorável do clima econômico .
A queda de 7% do ICE da América Latina não pode ser explicada pela piora no cenário internacional: o ICE agregado mundial avançou 3% entre abril e julho, influenciado por melhores avaliações em relação às economias dos Estados Unidos e da Ásia. Na União Europeia o ICE recuou em julho, embora mantenha-se na zona favorável do ciclo.
O clima favorável do mundo deve ser interpretado com cautela. Um quesito especial incluído na Sondagem do Instituto Ifo em julho mostrou que 70% dos especialistas consultados avaliam que o acirramento recente dos problemas na Ucrânia impõe um risco considerável de elevação do preço de energia no futuro próximo, com potenciais efeitos negativos sobre o clima econômico. Na América Latina, contudo, os especialistas entrevistados não avaliaram este ponto como um fator adicional de risco. Logo, a piora do ICE na região latina é decorrente de problemas domésticos.
O que explica a piora do ICE da América Latina?
Os indicadores são ponderados pela participação da corrente de comércio (exportações mais importações) de cada país na região. Após o México, com participação de 35%, segue-se o Brasil, com 23%, Argentina, Venezuela e Chile, todos com participação de 7%. O ICE do México aumentou 4% entre abril e julho e hoje se encontra na zona favorável. O Brasil, a segunda maior economia em termos de corrente comércio, registrou piora em todos os indicadores e o ICE recuou 22% entre abril e julho. Considerando-se a métrica interanual, o ICE caiu 27% entre julho de 2013 e 2014. Argentina e Chile também registraram piora no ICE.
Somente Colômbia e Bolívia registraram melhora nas avaliações sobre a situação atual, de 58% e 11%, respectivamente, entre julho de 2013 e 2014. Nessa mesma base comparação, houve piora de 61% e de 36% para a Argentina e o Brasil, respectivamente. A situação na Argentina pode ser explicada pela crise econômica e pelas incertezas trazidas pelos problemas enfrentados na renegociação da dívida externa com os chamados “Fundos Abutres”. No caso do Brasil, a avaliação da situação atual vem se deteriorando desde janeiro, com piora nas expectativas e na avaliação da situação econômica em geral.
O IE sugere que o cenário não é positivo para a maioria dos países latinos até o final do ano. Apenas Chile e México registraram melhora na comparação ente abril e julho e entre os meses de julho de 2013 e 2014. Alguns países tiveram forte deterioração das expectativas na comparação interanual: Peru (-20%); Colômbia (-27%); e Equador (-43%). No Brasil, a queda foi de 19% (julho 2014/julho 2013) e de 8% entre abril e julho de 2014.
Os resultados da Sondagem mostram que o clima econômico dos países da América Latina não seguem uma mesma trajetória. Chama atenção que o clima econômico melhorou apenas no México entre abril e julho, como uma provável consequência da melhora nos indicadores nos Estados Unidos, país responsável por 80% de sua corrente de comércio. O indicador de expectativas é um sinal relevante para avaliarmos as possíveis trajetórias de curto prazo. Nesse caso, fora o México, apenas o Chile indica perspectivas de melhora no momento.
Se após a crise de 2008, os países latinos exportadores de commodities apresentaram melhores indicadores de clima econômico que o resto do mundo, agora a situação se inverteu. Os indicadores apontam evolução desfavorável nos próximos meses em quase todos os países selecionados da região.
Brasil, Argentina e Venezuela mantiveram suas posições no ranking das piores médias do ICE nos útimos quatro trimestres. (FGV/Ibre)
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Via: economiasc.com.br