Por Claudio Grande*
Responsável pela criação de cerca de 2 milhões de empregos diretos, o setor têxtil e de confecções brasileiro vive uma realidade controversa: enquanto há o aumento do consumo de moda no país, as vendas das indústrias nacionais recuam e perdem espaço para os importados. O Brasil está entre os dez maiores mercados consumidores do segmento no mundo e faz uma moda diferente, o que gera grandes oportunidades para a indústria.
É um dos segmentos da indústria nacional que mais emprega e que mais têm potencial para crescer e é, justamente, um dos que mais perde seu próprio mercado, onde as importações crescem mais que o consumo.
O segmento ilustra bem a situação da indústria nacional como um todo. Os obstáculos são os mesmos enfrentados por todo o setor: legislação trabalhista ultrapassada, elevada carga tributária, falta de recursos para investimentos, logística cara, escassez de mão de obra qualificada e falta de estímulos para a inovação. Alguns desses entraves afetam as confecções e as indústrias têxteis de forma mais intensa.
Como o segmento é de mão de obra intensiva, é dos mais afetados pela complexidade da legislação trabalhista, pelo custo elevado que ela gera para as empresas, pelo quanto reduz suas margens e compromete sua competitividade em relação às empresas estrangeiras. A legislação trabalhista brasileira precisa ser modernizada, a fim de simplificar as contratações.
Ao mesmo tempo, as empresas se deparam com a falta de mão de obra qualificada. As falhas do ensino fundamental e técnico do país forçam as empresas a, além de arcarem com elevado custo do trabalhador, investirem na capacitação de seus funcionários.
A carga tributária do país é uma das maiores do mundo. Mas não são apenas os elevados impostos que comprometem a competitividade no país. A complexidade do sistema tributário é tamanha que indústrias de médio porte precisam de até 20 funcionários na área fiscal, enquanto que, em outros países, o mesmo departamento em empresas similares em tamanho tem dois ou três na função. Não é preciso comparar a legislação brasileira somente com nações desenvolvidas. O sistema tributário de países como Colômbia e Peru é muito mais simples. As confecções no país são, na maioria, pequenas e médias empresas, que não têm condições de realizar um gerenciamento fiscal e tributário tão complexo, que gera inseguranças a quem produz aqui e afugenta investidores.
Faltam recursos para as empresas financiarem suas atividades e investirem. O segmento têxtil, como um todo, necessita de elevado capital de giro e o custo do dinheiro no Brasil, que tem a maior taxa de juros do mundo, dificulta suas operações. O cartão BNDES foi uma importante inovação para as empresas menores, mas o volume de empréstimos ainda é pequeno. Portanto, é preciso ampliar o acesso a esse crédito.
A infraestrutura no país é um problema para todos e resulta em custos elevados, desde energia até a logística. Para as confecções nacionais, compromete a competitividade frente aos importados que, mesmo cruzando mares para chegar aqui, o fazem com vantagens sobre os produtores nacionais.
Por último, faltam estímulos para inovação. O mundo vive um ciclo rápido de inovação. A indústria de moda brasileira é inovadora por natureza, mas não consegue levar a cabo essa vocação por falta de estímulos, como incentivos fiscais ou oferta de recursos. O setor têxtil é e continuará sendo de vital importância para a economia brasileira. É preciso, portanto, que os presidenciáveis olhem-no com atenção.
*Claudio Grande é sócio fundador da Audaces Automação Industrial e presidente do Santa Catarina Moda e Cultura (SCMC)
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