Por Luiz Alberto Ferla*
O filósofo francês Luc Ferry, em seu livro “Famílias, amo vocês”, afirma que, atualmente, “a verdadeira meta da existência para a maioria das pessoas – o que dá sentido, sabor e valor à vida – situa-se basicamente na vida privada. E essa evolução só se torna compreensível quando colocada em perspectiva no interior de uma história, a da família moderna. A família, de modo algum, é um tema exclusivo da direita, como tantas vezes se repetiu, de maneira impensada e mecânica, mas, pelo contrário, é o mais belo apanágio da aventura democrática”. Ainda, segundo ele, “não há nada mais democrático e moderno do que o tema família”.
Esta afirmação é muito oportuna para analisarmos melhor o momento político atual. Desde o final do regime militar em 1985, a cada quatro anos, os brasileiros voltam suas atenções para as campanhas eleitorais para eleger o Presidente da República e para os debates das propostas de governo dos diferentes candidatos, sobre quais deveriam ser os pontos prioritários a serem implementados.
Infelizmente, no primeiro turno da eleição presidencial deste ano faltaram, não apenas debates de propostas de governo, mas, sobretudo, propostas que evidenciassem uma visão clara e objetiva do Brasil que nós queremos. Ainda que o exercício do voto seja indispensável para a democracia, a maior parte das discussões dos candidatos esteve focada em fatores que afetam a vida dos brasileiros no curto prazo. Não se discutiu propostas e ações que garantam um futuro melhor para as famílias brasileiras, muito além das frágeis políticas públicas compensatórias de transferência de renda, atualmente implementadas, como o bolsa família.
Nos últimos 20 anos, o país obteve grandes avanços nos campos econômico e social, passando pela abertura comercial e pela a estabilidade econômica, resultando na ascensão de mais de 30 milhões de brasileiros acima da linha de pobreza. Deixamos de ser um país subdesenvolvido, para ser um país de renda média, com novas prioridades e novos desafios a serem enfrentados. Para entendermos melhor os anseios das famílias brasileiras é necessário entendermos essas novas prioridades e quais são os novos desafios que o país deve enfrentar para atendê-las.
Nos últimos anos, o desenvolvimento econômico do país foi impulsionado, por fatores internos e externos, que possibilitaram um aumento do consumo das famílias e dos investimentos públicos e privados, e uma melhoria da qualidade de vida para uma parte significativa da população. Entretanto, há evidências que a partir de agora esses fatores não serão mais capazes de impulsionar o desenvolvimento do país, como ocorreu no passado recente, pois a retração nas vendas de produtos de consumo duráveis, particularmente de automóveis e eletroeletrônicos, evidencia que este modelo está no seu limite e não tem sustentabilidade a médio e longo prazos. Garantir que as conquistas obtidas até agora sejam de fato sustentáveis será um grande desafio. Temos que criar um sonho para as famílias brasileiras, que envolva de forma colaborativa governos, empresários, acadêmicos, ONGs e, acima de tudo, os próprios cidadãos brasileiros.
Este sonho não deve ter como objetivo simplesmente definir políticas públicas compensatórias de transferência de renda ou metas de curto prazo para os próximos governantes. Temos que fazer escolhas entre um “País de Necessitados”, ancorados por essas políticas públicas, e um “País de Empreendedores”, baseado na educação, no conhecimento e na inovação. Temos que garantir para os nossos filhos um país mais sustentável, que não fique a mercê do humor do mercado e do governo de plantão. As políticas públicas mais relevantes têm que ser necessariamente de Estado, permanente, e não apenas de um governo que, numa democracia, é sempre transitório.
O conceito de cidadania vai muito além do voto que cada brasileiro digitará nas urnas eletrônicas no segundo turno desta eleição presidencial, envolve também a nossa participação na definição desta visão, que é uma forma de nos transformar em protagonistas para a viabilização deste sonho, de gerar um futuro melhor para o Brasil.
Nessa perspectiva, temos que enfrentar o seguinte desafio: “qual visão o país precisa ter para seguir sua trajetória de desenvolvimento, construindo um caminho seguro para uma sociedade mais próspera, desenvolvida, saudável, educada, segura, com igualdade de oportunidades e possibilidade de ascensão social para todas as famílias brasileiras?
Apesar de ser um enorme desafio, acreditamos que é possível realizar este sonho de conquistarmos um desenvolvimento sustentável, que contemple as dimensões ambiental, econômica, institucional e social, com um modelo de crescimento inclusivo, que nos permita alcançar um cenário de real prosperidade para as famílias brasileiras, posicionando o Brasil no grupo de países desenvolvidos num futuro próximo.
Enfim, para devolvermos a todos os cidadãos brasileiros o direito de sonhar, temos que garantir uma série de mudanças nos próximos quatro anos, para construirmos o Brasil que nós queremos: mudança na prosperidade das famílias, por meio de um modelo de crescimento inclusivo e sustentável, mudança na educação, para garantirmos que todas as crianças e adolescentes tenham o direito de sonhar com um futuro melhor, mudança na saúde, para garantirmos um atendimento de qualidade para todas as famílias e, mudança na segurança pública, para eliminarmos definitivamente a violência epidêmica que assola hoje o país.
Este é o sonho que a família brasileira espera que o futuro governo transforme em realidade e que o setor empresarial tem como expectativa, para poder produzir em um ambiente que seja favorável e seguro aos negócios.
*Luiz Alberto Ferla é Presidente do DOT digital group – grupo de empresas de soluções digitais
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Via: economiasc.com.br